Histórias para incluir


Ao ser convidado para escrever no blog do Fazendo Contato e tendo como pano de fundo ações contra a Aids e as doenças sexualmente transmissíveis, três imagens me vieram a mente instantaneamente:  uma das primeiras reportagens sobre a Aids que tratava do tema no SBT, a primeira novela na antiga Manchete que tratou do assunto e a recente fala do BBB Marcelo Dourado na Rede Globo.

Novela da antiga Manchete

O tema “Aids” vive aparecendo aqui ou ali. E ai, vem a primeira lembrança. Era 1986, estávamos eu e minha mãe sentados na sala da tevê ouvindo a primeira entrevista sobre o tema-tabu. Ficamos calados e assustados. Naquele momento achavam que era um cancês diferente  e a ligação com os homossexuais e prostitutas foi imediata. Naquela mesma semana ouvi no púlpito da igreja o pastor dizer que era uma resposta de Deus ao pecado.
Devo dizer que a igreja disse e diz ainda, com muita propriedade, que tudo isso é desígnio divino para os pecadores. Logo a Aids e as doenças sexualmente transmissíveis têm sempre o viés da iniquidade. Assim, o doente passa a viver com duas realidades: a da doença, propriamente dita, e a questão da autoestima altamente prejudicada pois é, na verdade, um grande pecador.
Na década de oitenta tivemos a primeira personagem em uma novela com Aids. Desculpe-me os desavisados, mas não podemos deixar de perceber que a teledramaturgia é o grande representante da cultura de massa desse país.
E foi na novela Corpo Santo, pelas mãos do novelista José Louzeiro, que a prostituta Mariana mostrou-se com a doença. A ideia naquele momento era apresentar que as mulheres também eram alvo e seus maridos podiam levar para casa. Outro fato era o de expor o preconceito que passam os infectados. Além disso, a atriz sofreu vários problemas no seu prédio, por exemplo, vizinhos deixaram de falar com ela e mudaram o lado que andavam na rua.
Para finalizar, em 2010, Marcelo Dourado diz no Big Brother Brasil que Aids não é contraída  por heterossexuais. Assim sendo, apenas gays e prostitutas são responsáveis por isso. E o que mais intriga é que a Rede Globo encerrou o assunto com apenas uma fala do apresentador Pedro Bial informando que a opinião dos participantes não representa, necessariamente, a opinião do programa. Foi só! Mesmo que vários representantes de Ong e secretarias de saúde tenham apresentado o repúdio a tal atitude.
A grande conclusão disso tudo é que o preconceito existe. Isso é fato. E acho que você não tinham dúvida sobre isso. Eu poderia mostrar vários outros exemplos na tevê que expõe isso. O que é muito complicado é conviver com a autoestima dessas pessoas que a partir do momento em que o resultado é positivo convivem com preconceito e um elemento religioso ou moral inconcebível.
O que é preciso? Persistir. Se cuidar. Respeitar. Use o serviço gratuito da sua região, faça os exames com frequência e vamos batalhar para que os nossos amigos, parentes ou parceiros não sejam alvo de discriminação. E assim, poderemos olhar para esses exemplos midiáticos como uma fase, um momento, em que passamos para avançar rumo a inclusão de todos.

Aids: A vida continua, mas o preconceito tem que acabar!

Ricardo Azevedo para Blog do Contato 2010

O primeiro caso de aids no Distrito Federal foi diagnosticado em 1985. De lá para cá muita coisa mudou. Com o surgimento dos antirretrovirais, medicamentos que combatem a multiplicação do HIV no organismo, o diagnóstico de aids, aos poucos, foi deixando de ser uma sentença de morte.

Apesar de, atualmente, a aids ser considerada uma doença crônica, viver com HIV/Aids não é uma tarefa das mais fáceis. Assim como o hipertenso ou o diabético, a pessoa soropositiva precisa seguir uma rotina diária de medicamentos e outros cuidados com sua saúde. Além disso, quem vive com HIV/Aids, por vezes, lida ainda com o preconceito e a discriminação.

E preconceito, geralmente vem de falta de informação.

Não adquire-se o HIV através do ar, do abraço, do beijo ou do sexo com camisinha. Se hoje sabemos que o HIV, vírus da aids é transmitido por secreções como sangue, esperma e líquido vaginal, fica claro que, para não ter contato com o vírus, basta não ter contato com estas secreções, usando sempre a camisinha e evitando compartilhar objetos contaminados com sangue.

E é aí que vem o grande nó crítico. Por que, apesar do conhecimento de grande parte da população sobre os métodos de prevenção, novos casos de aids ainda vem acontecendo (principalmente através de relações sexuais)? Mais do que preservativos disponíveis e informação, é preciso que haja uma mudança de atitude por parte de cada um. O HIV não escolhe sexo, raça ou situação social. Mas cada um pode escolher entre o risco e a prevenção. Entre o preconceito e o respeito.

Qual é a sua atitude nesta luta?

Primeiro Contato...

Saudações!! Me chamo Marcos Paulo, tenho 25 anos (daqui a 27 dias 26 anos), dj, produtor e militante de área de juventude com especial recorte na questão LGBT. Acompanho as discussões acerca da epidemia do HIV desde os 15 anos de idade. De lá pra ca muita coisa mudou nesse país. Diante dos novos desafios acredito que a informação tem uma peça chave para colhermos bons resultados.

É comum vermos afirmações acerca da juventude que dizem que o jovem não usa camisinha por não ter vivido o inicio da epidemia do HIV. Me incomodo muito com essa afirmação. Essa "nova geração" pode não ter presenciado a fase mais destrutiva da Aids, mas com certeza ainda colhe frutos das campanhas "tenha medo" que eram feitas nesse período.

Me questiono... Algum jovem, (adulto, criança, idoso) não ve problemas em contrair o vírus HIV? Alguem na nossa sociedade tem interesse em contrair o vírus por escolha própria? Na minha visão a sociedade ainda nutre um pensamento que coloca o adolescente como um ser assexuado. Conseguir informações, preservativos é algo complexo nessa faixa etária. Enquanto o jovem for tratado como assexuado continuaremos a ter crescimento nos índices da epidemia do HIV com esse público.

O Programa Nacional de Dst/Aids nos últimos anos trabalhou com campanhas com o recorte de juventude. A campanha "Qual é a Sua?" com foco nos adolescentes gays e bissexuais, demonstra um amadurecimento dessa idéia, ja que trata o jovem e o adolescente como ator principal da ação.

Penso que é dessa forma que mudaremos o quadro da epidemia do HIV com a população jovem do país.